O Calvário e a Missa
Como entender que o sacrifício que Nosso Senhor ofereceu uma vez por todas na Cruz é o mesmo que oferecem os sacerdotes católicos, todos os dias, nos altares do mundo inteiro? E em que momento específico da Missa acontece a renovação do sacrifício do Calvário?
Recapitulando
Seguimos com o nosso artigo sobre
os Missais. É importante lembrar que não é nosso objetivo tomar as decisões
prudenciais que cabem, na verdade, ao Magistério, aos bispos ou aos próprios
padres que vão celebrar usando um ou outro missal. A ideia é oferecer aos
interessados uma base teológica firme de modo que se possa debater o tema com
foco naquilo que é realmente fundamental.
E esse fundamento, esse xis da
questão, como já tivemos a chance de entender, é o fato de a Missa ser a
renovação incruenta do sacrifício de Cristo na Cruz. Aqui é que está o
verdadeiro debate, pois, como também já dissemos, existe dentro da Igreja uma
corrente teológica filo-herética que quer, à moda protestante, reduzir a Missa
a uma refeição, a uma partilha, a um simples memorial.
É verdade que, em certo sentido,
a Missa seja um memorial. Mas é preciso ter discernimento para compreender que
não é apenas isso, que não é essencialmente isso.
Para dar um exemplo. Os missais,
antigos e novos, trazem sempre no início do Cânon uma bela ilustração do Cristo
crucificado. Ora, esse desenho é também, de algum modo, uma representação do
sacrifício, um memorial. Mas nem precisa dizer que não é apenas isso o que
acontece na Missa: a pintura nos remete ao sacrifício; mas, nela, não está
ocorrendo, de fato, um sacrifício.
Dizendo de outro modo: a Missa
não é um ato que, pictoricamente, artisticamente, rememora o sacrifício de
Cristo. Fosse o caso, ela se rebaixaria a uma espécie de pantomima, um jogral,
um teatrinho. Fosse este o objetivo, seria melhor o padre abrir mão da casula
e, vestido de Cristo, reunir os jovens da paróquia para encenar a
Paixão. Teríamos um memorial da morte de Cristo, não um sacrifício.
O Concílio de Trento nos disse,
não custa lembrar: a Missa é um verdadeiro e próprio sacrifício.
Ali, acontece um sacrifício mesmo, realmente. Quando o sacerdote faz as duas
transubstanciações, a do pão em verdadeiro Corpo de Cristo, e a do vinho em
verdadeiro Sangue de Cristo, ocorre, verdadeiramente, um sacrifício; se dá,
verdadeiramente, a renovação incruenta do Calvário.
Eis aí o centro da questão, aquilo
que deve ser o foco de um debate que se pretenda sério sobre os missais. Caso
contrário vamos ficar discutindo acidentes, banalidades, o fato de um ter
fitinhas vermelhas e o outro fitinhas coloridas.
O sacrifício da Missa nas Sagradas Escrituras
Nosso Senhor Jesus Cristo,
segundo a ordem de Melquisedec, ofereceu pão e vinho de forma incruenta na
Última Ceia, significando o sacrifício cruento que realizaria no Calvário. E
ali, naquela ocasião, Ele deu uma ordem: Hoc facite in meam
commemorationem, “Fazei isto em memória de mim”. Ele mandou, com todas as
palavras, que se repetisse aquele sacrifício.
Os protestantes tradicionais — os
pentecostais brasileiros até isso deixaram de fazer — também realizam a ceia,
mas a entendem como um sacrifício de louvor, um simples memorial da Paixão de
Cristo. Eles não a tratam de modo nenhum como a renovação do sacrifício da
Cruz, argumentando que não há base bíblica para se crer nisso.
Para refutá-los, Trento recorda
(Sessão 22.ª) um texto de São Paulo (cf. DH 1739). A passagem
esclarece o que a Igreja de fato diz quando afirma haver, na Missa, a renovação
do sacrifício do Calvário. Vejam, portanto, como não se trata de uma
elucubração escolástica ou uma invenção tridentina. É algo que aparece com
muita clareza nas Sagradas Escrituras. Vamos ler e meditar. A ideia é que você,
aluno, faça um ato de inteligência e consiga enxergar a realidade. São Paulo
diz assim:
Meus caríssimos, fugi da idolatria! Falo como a pessoas sensatas. Julgai vós mesmos o que eu digo. Porventura, o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do Corpo do Senhor [1]? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Considerai Israel segundo a carne: os que comem das vítimas, porventura, não têm parte no altar [2]? Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. Ora, não quero que tenhais sociedade com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios [3]. Queremos porventura provocar o Senhor? Acaso somos mais fortes que ele? Tudo é permitido, mas nem tudo aproveita. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica (1Cor 10, 14-23).
Claramente o Apóstolo está
dizendo: existe sacrifício para Deus e existe sacrifício aos demônios. No
original grego, lemos: ou thelō de, eu não quero então, hymas
koinōnous tōn daimoniōn ginesthai, que tenhais koinōnous,
comunhão, ou seja, não quero que vocês comunguem com os demônios (οὐ θέλω δὲ ὑμᾶς
κοινωνοὺς τῶν δαιμονίων γίνεσθαι). O Apóstolo diz isso pois, no contexto do
Antigo Testamento, as carnes eram imoladas aos ídolos e depois vendidas no
mercado. Quem comprasse, estaria, portanto, em comunhão com os demônios, com os
ídolos — embora São Paulo não lhes reputasse nenhum poder.
Ou seja, se lemos da maneira
correta, compreendemos que São Paulo afirma claramente: comungar do
cálice do Senhor significa participar de um sacrifício; comer o pão e beber
o vinho, na Missa, é participar de um sacrifício. Ora, se é possível sacrificar
ao demônio e comungar do seu cálice, é também possível sacrificar a Deus e
comungar do seu cálice.
E para não deixar dúvidas, vale
lembrar que o Antigo Testamento menciona a existência de um sacrifício de trigo
ao lado da oferta de ovelhas. A prescrição é a seguinte: “Manda aos filhos de
Israel, dize-lhes: Apresentai no tempo determinado a minha oferta… Todos os
dias, dois cordeiros de um ano. Sem defeito, em holocausto perpétuo… um pela
manhã, outro pela tarde” (Nm 28, 2-4). Mas, além das vítimas,
continua o texto, é preciso oferecer “a décima parte de uma efá de flor de farinha
amassada, na quarta parte de um hin de azeite puríssimo” (v. 5).
Sacrifício de farinha ao lado do
sacrifício do animal: é claramente uma prefiguração da Eucaristia. É por isso
que Trento cita, também, a famosa passagem do profeta Malaquias: “Do nascente
ao poente, meu nome é grande entre as nações, e em todo lugar se oferece em meu
nome um sacrifício fumegante, uma oblação pura, porque o meu nome é grande
entre as nações, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 1, 11).
Com isso, o Concílio queria nos
lembrar que sempre, até o fim dos tempos, será necessário oferecer um
sacrifício puro. Cristo ofereceu de uma vez por todas, estamos de acordo. Mas o
profeta diz que esse sacrifício há de perdurar até o fim dos tempos. E é o que
fazemos na Missa, conforme o próprio Cristo ordenou na Última Ceia.
Calvino, como para rebater esse
argumento, afirma haver uma espécie de anacronismo na interpretação, já que os
sacrifícios mencionados ocorriam no contexto do Antigo Testamento. Todavia,
quando analisamos o original hebraico, encontramos a expressão ū-min-ḥāh, וּמִנְחָ֣ה,
que quer dizer exatamente um sacrifício de trigo. O profeta afirma
que em todos os tempos, em todos os lugares, vai se oferecer ao Senhor um
sacrifício puro, e a palavra min-ḥāh indica justamente o
sacrifício de trigo.
Quer dizer, se olharmos para o
Antigo Testamento, inclusive passando pelo exemplo de Melquisedec, veremos que
o pão e o vinho, eles mesmos, já eram matéria sacrificial. Existia, desde lá, o
sacrifício incruento, o mesmo que Cristo realizou na Quinta-feira Santa, o
mesmo que os padres realizam diariamente na Santa Missa.
E isso é importante esclarecer,
pois uma frequente e injusta contestação de protestantes, como Zwinglio e
Calvino, é a de que não poderia haver realmente um sacrifício na Missa uma vez
que a vítima, o pão e o pinho, não é modificada — algo que, como vimos, é
necessário para que haja sacrifício no sentido verdadeiro e próprio.
Eles questionam: como pode ter
havido mudança na vítima oferecida se o pão e o vinho continuam lá, exatamente
como pão e vinho? Ao que poderíamos responder: pão e vinho não continuam lá,
senhores. Há a transubstanciação. Permanece a aparência de
pão, mas a substância já é outra; permanece a aparência de
vinho, mas a substância já é outra.
Quer dizer, na liturgia católica
nós vemos claramente as profecias do Antigo Testamento se cumprindo, e isso
porque ela repete, obedientemente, o que Cristo fez na Última Ceia: todos
aqueles sacrifícios diários, perpétuos, de cordeiros e de trigo, se realizaram
em Cristo — que fez, segundo a ordem de Melquisedec, o sacrifício do pão e do
vinho, sacrifício incruento como sinal do sacrifício cruento que Ele realizaria
no dia seguinte.
E, de novo: estamos de acordo com
os protestantes quando eles afirmam ter sido este o único sacrifício, oferecido
de uma vez por todas, ephapax (ἐφάπαξ). O próprio Concílio de
Trento reafirma em vários momentos essa realidade. Por exemplo:
Este nosso Deus e Senhor, embora se houvesse de oferecer, uma só vez, a Deus Pai sobre o altar da cruz por sua morte (cf. Hb 7, 27), para realizar para eles [ali] uma redenção eterna…
Até aqui estamos de acordo com os
protestantes. Agora vem o essencial da fé católica:
…contudo, porque seu sacerdócio não se devia extinguir pela morte (cf. Hb 7, 24), na última ceia, “na noite em que foi entregue” (1Cor 11, 23), para deixar à sua dileta esposa, a Igreja, um sacrifício visível — como a natureza humana exige —, pelo qual fosse tornado presente aquele sacrifício cruento que se havia de realizar uma só vez na cruz e seu memorial permanecesse até o fim dos séculos e seu poder salutar fosse aplicado para a remissão dos pecados que diariamente cometemos [e por isso precisa haver missa diariamente, pois continuamos pecando], declarando-se constituído “sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Sl 110, 4; Hb 5, 6; 7, 17), ofereceu a Deus Pai seu corpo e sangue sob as espécies de pão e de vinho e, sob os sinais destes, os transmitiu para que os recebessem os Apóstolos (que constituía então sacerdotes do Novo Testamento) e, com as palavras: “Fazei isto em meu memorial” etc. (Lc 22, 19; 1Cor 11, 24), ordenou-lhes, a eles e a seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem, como a Igreja católica sempre tem entendido e ensinado (DH 1740).
O Concílio, com a máxima clareza,
desbanca todas as objeções dos revolucionários. E com base nas Escrituras.
Quando acontece o sacrifício na Missa?
Mas quando é que, na Missa,
acontece concretamente o sacrifício?
Partamos do seguinte ponto, para
que não haja mais qualquer dúvida: há só um único sacrifício redentor, que é o
de Jesus Cristo na Cruz. Este sacrifício, como já dissemos, tem um único
sacerdote, o próprio Cristo, e uma só vítima, Cristo.
Aqui vale um aprofundamento.
Embora Jesus seja o sacerdote, não é Ele quem derrama o sangue da vítima, como
ocorre nos sacrifícios. Deus aproveita a ocasião de um crime, a execução de um
inocente, crime este cometido por Pôncio Pilatos, por Herodes, por Caifás, por
Anás, pelos soldados romanos, para que o Cristo ofereça o seu sacrifício. Isto
é uma das realidades da cristologia antiga que nos faz enxergar Jesus como
sacerdote. Ora, Cristo diz claramente que, se Ele quisesse, deteria aquele
crime a qualquer momento. Mas Cristo deixou-se atingir; tornou-se vulnerável
porque quis. Ele ativamente aceitou o crime. Ele, portanto, como sacerdote
ativo, se ofereceu. E o fez, evidentemente, sabendo que o mais importante do
sacrifício não é a separação do corpo e do sangue da vítima, sinal externo do
ato, mas a intenção do sacerdote, a oblação interna.
É importante bater neste ponto,
pois isso que era uma verdade admitida até pelos protestantes tradicionais,
hoje é ignorado inclusive por católicos — por falta de pregação, por falta de
catequese. As pessoas, hoje, não olham para a Cruz como um sacrifício salvador.
Olham para Cristo como um homem legal, um cara que veio, pregou o amor, ensinou
lá sua doutrina, e, no fim, como que num acidente de percurso, padeceu a morte
injusta. Uma chatice… “Mas — dizem — ainda bem que Ele ressuscitou e a história
teve um final feliz”. Não! Errado! Não foi acidente nenhum. Cristo não veio do
Céu à terra para outra coisa. Cristo veio exatamente para isso. Cristo veio
para oferecer na Cruz um sacrifício de amor a Deus, um sacrifício de adoração, ação
de graças, propiciação e intercessão, por amor
a nós; sacrifício em que, a um só tempo, Ele é sacerdote e vítima.
E isto que Ele realizou na Cruz
foi antecipado na Quinta-feira Santa, na Última Ceia. Ali, Jesus, segundo a
ordem de Melquisedec, ofereceu pão e vinho. Naquela oferta, Ele realizou, pela
primeira vez, a transubstanciação. Ou seja, operou-se uma mudança
naquelas oferendas: o pão fez-se Corpo; o vinho fez-se Sangue. Os Apóstolos, de
fato, naquela noite, comungaram do Corpo e do Sangue de Cristo.
Ora, na dupla transubstanciação
realizada por Jesus na Santa Ceia, antecipou-se, de maneira sacramental e
simbólica, o sacrifício cruento que se daria no dia seguinte.
Agora, um ponto muito importante:
Jesus instituiu que, pela força do sacramento, o pão se tornasse o seu Corpo.
Mas, quando fez isso, na Ceia, seu Corpo não estava separado do Sangue — como o
pão estava do vinho. Ele estava ali, vivo, diante dos Apóstolos. Quando
consagrou o pão e se operou a transubstanciação, estava, portanto, naquela
aparência de pão, o Corpo de Cristo tal como Ele se apresentava naquele
momento histórico: Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
Só para ilustrar: se, por
hipótese, algum padre consagrasse o pão no Sábado Santo, ali estaria o Corpo de
Cristo separado da Alma, pois era como estava naquele dia. Se consagrasse o
vinho, mesma coisa: naquela aparência de vinho, estaria o Sangue de Cristo
separado do Corpo. Quer dizer, o Corpo e o Sangue tornam-se presentes tal como
se encontram, em Cristo, no exato momento histórico da consagração.
Então vejam: quando na Missa se
consagra o pão, por efeito da transubstanciação está ali presente o Corpo de
Cristo. Como o Corpo, ali na aparência de pão, é o do Cristo ressuscitado, o
Corpo glorioso e impassível [4] do Cristo no Céu — assim como na Ceia era o do
Cristo vivo diante dos Apóstolos —, há também ali, por concomitância, ou seja,
por um acompanhamento necessário [5], o Sangue, a Alma e a Divindade do Cristo.
E o mesmo ocorre com a consagração do vinho: por efeito da transubstanciação há
ali o Sangue; por concomitância, há ali também o Corpo, a Alma, a Divindade.
Dizendo de outro modo:
- na instituição da Eucaristia, houve a dupla consagração das duas espécies em separado: o pão tornado Corpo, o vinho tornado Sangue.
- em cada uma delas, embora separadas, mantiveram-se, por concomitância, o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade, juntos, pois era assim que, naquele momento histórico, Ele, o Cristo, se apresentava.
Conclusão
Ora, na Santa Ceia, a consagração
das duas espécies, em separado, é o sinal sacramental do sacrifício cruento que
ocorreria na Cruz — em que haveria a separação do Corpo e do Sangue de Cristo.
É isto o que acontece na Missa [6]. O sacerdote católico que sobe ao altar está
oferecendo, na hora da consagração, por esta dupla consagração, dupla
transubstanciação, o sacrifício de Cristo na Cruz. O sacerdote é o mesmo, a
vítima é a mesma, só a forma de oferecer é diferente.
Depois que compreendemos isso,
podemos discutir qual dos missais transmite da melhor forma essa realidade. E também
podemos refletir com qual espírito devemos celebrar Pio V, Paulo VI, ou
qualquer outro rito católico: bizantino, malabar, malankar, copta etc. Pois um
rito pode ser mais adequado ou menos adequado, isso é um ponto. Mas,
independente do rito, a substância deve estar lá. E, para sabermos se está lá,
temos de perceber, com clareza, o que essencialmente se celebra na Missa.
Na sequência do artigo
Antecipando temas que
discutiremos mais adiante nos artigos: onde está o problema do Missal de Paulo
VI?
Algumas das pessoas que estavam
na comissão que elaborou o missal queriam puxá-lo na direção da teologia
protestante. E tanto é assim que pretenderam tirar o Cânon Romano, coisa que o
Papa não permitiu de maneira nenhuma.
Veremos a seguir porque o Cânon
Romano era o alvo. Mas, adiantando, posso dizer que as outras orações
eucarísticas, embora não sejam heréticas, podem ser lidas de maneira
filo-herética. O Cânon Romano não permite essa ambiguidade.
Ora, quando o Papa mandou que se
deixasse no Missal o Cânon Romano — a Oração Eucarística I —, queria com isso
deixar claro que as demais deveriam ser lidas da mesma maneira, com o mesmo
espírito. É uma chave de leitura obrigatória. Tirasse o Cânon Romano, as outras
poderiam ser lidas ao sabor do sacerdote: ora de maneira ortodoxa, correta,
como um sacrifício verdadeiro; ora de uma forma protestante, como um sacrifício
de louvor, que poderia ser oferecido por qualquer um da assembleia.
Mas, de novo: para abrir um
diálogo acerca dos missais, é preciso entender o que é de fato a Missa. Vale
lembrar que a finalidade aqui não é promover a discórdia, a discussão. Nossa
intenção aqui é que você leitor, compreendendo essas realidades, vivam melhor a
Missa. Nossa intenção é levar você para o Céu. E para isso é preciso participar
do sacrifício de Cristo na Cruz.
Nota
- Os protestantes interpretam este trecho num sentido amplo: São Paulo estaria falando de sangue, mas não de sangue real; de corpo, mas não de corpo real.
- Aqui, São Paulo faz uma correlação entre mesa e altar. Quer dizer, é inútil o debate que surgiu, após o Concílio Vaticano II, para definir se se trata de mesa ou altar: é as duas coisas. Alguns tradicionalistas negam que o altar seja mesa; alguns modernistas negam que a mesa seja altar. Mas é os dois ao mesmo tempo.
- Diga-se que a palavra mesa, objeto de controvérsia, aparece no original: trapezēs (τραπέζης). Trapeza é mesa em grego. Fala-se, portanto, em mesa, no sentido próprio da palavra.
- E aqui cai por terra a acusação maluca dos protestantes clássicos de que a Missa renovaria, também, o sofrimento de Cristo na Cruz. Claro que não é assim. Se o fosse, nós também deveríamos abominar a Missa.
- Para entender a ideia de concomitância: imagine que você vai ao supermercado para comprar escova de dente, mas que ela só possa ser adquirida, necessariamente, num combo em que acompanha: uma pasta, um fio dental e um enxaguante. Esses outros produtos, que não a escova, seriam comprados por concomitância.
- Por isso é terminantemente proibido, segundo o Código de Direito Canônico, o padre realizar a Missa tendo apenas o pão. Se ele o consagrar, haverá a transubstanciação. No entanto, não haverá a renovação do sacrifício, que depende da dupla consagração, sinal da separação do Corpo e do Sangue. Entendendo isso podemos compreender por que o padre, na Comunhão, nos diz: “o Corpo de Cristo”. De fato, pelo poder do sacramento, ali está o Corpo. Porém, por efeito da concomitância, estão ali, naquela espécie, o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade, tal como Cristo se encontra no presente histórico, ao lado de Deus Pai. Por isso podemos comungar tomando apenas uma das espécies.