Conclave: Onde o Céu e a Terra Fecham as Portas
Quando o Papa morre ou renuncia, o mundo segura o fôlego. E,
então, começa um dos rituais mais misteriosos e fascinantes da Igreja Católica:
o Conclave. Muito mais do que uma eleição, o Conclave é um drama espiritual e
histórico onde passado e futuro se encaram sob o teto estrelado da Capela
Sistina.
Este artigo mergulha fundo nesse evento único que, há mais
de sete séculos, define os rumos do maior corpo religioso do planeta.
O que é o Conclave, afinal?
“Conclave” vem do latim cum clave —
literalmente, “com chave”. E isso não é metáfora: os cardeais eleitores são
trancados (sim, de verdade) dentro do Vaticano até que escolham um novo Papa.
Nada de celular, rede social, jornal ou visita da avó. É jejum de mundo para
escutar o Espírito Santo.
Essa tradição surgiu justamente para evitar pressões
políticas e externas. Em 1274, o Papa Gregório X decretou, com a bula Ubi
Periculum, que os cardeais deveriam se isolar até eleger um Pontífice —
depois de uma eleição anterior que durou quase três anos. Imagina a tensão!
Como funciona?
Hoje, o Conclave ocorre na Capela Sistina. Participam apenas
os Cardeais com menos de 80 anos. São 120, no máximo. Tudo começa com uma Missa
Solene (Pro Eligendo Papa), depois os Cardeais juram sigilo absoluto e
entram no recinto. Lá, cada votação é secreta, escrita à mão, dobrada e
depositada num cálice de ouro.
Ao final de cada sessão, as cédulas são queimadas. Se a
fumaça sai preta, ninguém foi eleito (fumata nera). Se sai branca, bingo
— Habemus Papam.
A eleição exige maioria qualificada: dois terços dos votos.
Isso impede que um Papa seja escolhido por estratégia de facção. A ideia é
buscar um nome que una, não que divida.
Mais do que política, é mística
O Conclave é um paradoxo ambulante: é ao mesmo tempo um
ritual medieval e um ato moderno de governo. Por fora, parece um processo
político (e é, até certo ponto). Mas por dentro... é retiro espiritual, é
escuta, é oração.
Os Cardeais levam para dentro do Conclave não apenas
currículos e ideias, mas almas marcadas por décadas de serviço pastoral. O
ideal é que deixem de lado os jogos de poder — embora, sejamos honestos, eles
também existam — e busquem alguém que possa ser Pedro hoje: rocha, pai, pastor.
Por que esse mistério nos fascina tanto?
Porque o Conclave é uma cena congelada no tempo. Em pleno
século XXI, com inteligência artificial, criptomoedas e guerras híbridas, ainda
há um grupo de anciãos que se tranca num salão renascentista, sob afrescos do
Juízo Final, para rezar e votar com penas de escrever.
É algo que escapa à lógica comum. Como dizia Bento XVI, “não
é a Igreja que fabrica o Papa; é Deus que o escolhe — e às vezes surpreende”.
Mas e as manobras, os grupos, as tensões?
Claro que existem. Existe uma Igreja italiana, uma
latino-americana, uma africana e etc. Existem progressistas e conservadores,
diplomatas e profetas. Existem papáveis e “rei-makers”.
Mas isso tudo também é parte da Providência. O Espírito
sopra onde quer — e às vezes sopra forte demais e derruba as apostas de todo
mundo. João XXIII e Francisco, por exemplo, foram eleitos quase como “zebras” e
mudaram a história.
Quando acaba, o que acontece?
Assim que alguém recebe 2/3 dos votos e aceita a eleição,
troca de nome, veste branco, recebe o anel do Pescador e aparece na sacada da
Basílica de São Pedro. É o Habemus Papam — e o mundo católico
(e não só ele) vira os olhos para aquele homem que agora carrega o peso de dois
mil anos de história.
O Conclave hoje: tradição ou teatro?
Pode parecer teatro para os céticos. Mas para quem enxerga
com os olhos da fé, o Conclave é um dos últimos redutos onde a humanidade ainda
para ouvir, e não só para gritar.
É um momento onde se busca não o mais forte, mas o mais
fiel. Não o mais popular, mas o mais disposto a ser servo dos servos de Deus. E
isso, num mundo de vaidades e selfies, é revolucionário.
Referências e leituras recomendadas
- Eamon Duffy, Saints and Sinners: A History of the Popes.
- George Weigel, Witness to Hope: The Biography of John Paul II.
- Joseph Ratzinger, Introdução ao Cristianismo.
- Austen Ivereigh, The Great Reformer: Francis and the Making of a Radical Pope.
- Código de Direito Canônico, 1983.
- Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, João Paulo II, 1996.
E você, o que acha do Conclave?
O que mais te intriga nesse ritual milenar? A fumaça? O
segredo? A espiritualidade? A política nos bastidores? Manda nos comentários —
bora abrir essa conversa!
Se curtiu esse mergulho no coração da Igreja, compartilha com aquele amigo que adora história, fé ou teorias de bastidor (porque sim, tem quem jure que existe “lobby de cardeais”.
Habemus conteúdo.